Preciso de uma idéia brilhante! Você me "empresta"?
“Você pode ver muito apenas observando”
Yogi Berra
1. A dúvida e a idéia
A pesquisa, filosoficamente, surge da observação de um cenário clínico e da geração de uma dúvida. O passo seguinte a esta dúvida é o de gerar uma pergunta e a partir daí formular uma hipótese, uma provável resposta à pergunta, que será comprovada ou não no futuro.
A importância da observação do cenário clínico como motivação inicial de uma pesquisa condiz em atender ao aspecto da relevância do estudo. Da mesma forma, a geração de uma pergunta deve ser pensada como fundamental por permitir que a pesquisa comece a ser planejada e estruturada para responder algo específico de forma objetiva. A formulação de uma hipótese possibilita a diminuição da probabilidade de possíveis erros e tendenciosidades (viéses) na pesquisa, por meio do teste contrário à hipótese. A idéia é a pedra angular da futura pesquisa, de forma que um estudo só pode ser realizado, eticamente falando, se estiver inserido em uma realidade (contexto) que o justifique e o torne necessário.
Cabe destacar neste momento que uma pesquisa pode ser iniciada de outra forma que não a ideal (filosófica) uma vez que existem casos onde o agente da pesquisa não está inserido na prática clínica e não possui uma visão suficientemente profunda sobre um tema ou área específica, o que é patente e possui seu maior exemplo nos casos dos alunos dos cursos de graduação em nível superior.
2. A idéia brilhante
Idéia brilhante é como é chamado todo o processo criativo que compreende a dúvida (observação do cenário clínico), a pergunta e a formulação de hipóteses (possíveis respostas para a pergunta) (Figura 2.1). Pelas suas próprias características, a idéia brilhante possui como elementos essenciais a curiosidade, a iniciativa, a disposição e o raciocínio lógico (Castro, 2001).
Um aspecto muito importante na geração da pergunta da pesquisa é que ela deve ser clara, única e precisa, de maneira que ao ler o autor seja capaz de saber delimitar qual o problema a resolver e exatamente onde quer chegar (Castro, 2001).
Vejam o que Castro (2001) diz a respeito da formulação da pergunta da pesquisa: "A formulação da pergunta é uma etapa fundamental da pesquisa, pois define e delimita o problema a ser estudado, fornecendo ao pesquisador o elemento principal para estabelecer o objetivo da pesquisa". E ele ainda continua explicando as características da pergunta: "A clareza significa que ela deve fornecer ao leitor um panorama geral do problema a ser estudado. A unicidade diz respeito ao dimensionamento único que deve ter a pesquisa a fim de facilitar o trabalho do pesquisador. A pesquisa deve procurar responder apenas a uma questão de cada vez. Ela deve ser direcionada para resolver um e apenas um problema. É claro que outras dúvidas surgirão com o desenrolar do trabalho. Estas deverão servir de suporte a novas pesquisas no futuro. A precisão refere-se ao direcionamento necessário à pesquisa que a pergunta vai fornecer. Ao ser precisa ela define qual o caminho a ser seguido para a execução da pesquisa".
3. Como ter uma idéia brilhante?
Feita a explicação da importância da idéia brilhante cabe destacar aqui a condição dos alunos dos cursos de graduação e a dificuldade para estes conseguirem iniciar uma pesquisa, uma vez que não possuem uma visão suficientemente profunda sobre alguma área ou tema específico para perceberem um campo importante para execução de uma pesquisa.
Nestes casos é comum a participação de um professor, orientador ou facilitador. O professor funciona como uma fonte de idéias para os alunos, devido ao seu profundo conhecimento na prática clínica, e é o “recurso” mais utilizado pelos alunos do curso de graduação pelo seu contato diário e constante. O orientador é um “professor especial” que além de seu profundo conhecimento na prática clínica possui uma trabalhada visão de pesquisador, possibilitando uma verdadeira “orientação” completa no seguimento da pesquisa (acompanhamento de cada uma das fases e das etapas da pesquisa), é o orientador também quem possui uma visão ampla sobre sua área de pesquisa a ponto de fornecer ao aluno de graduação dúvidas de acordo com seu grau de conhecimento no método científico. Em função da dificuldade clara em encontrar um orientador no conceito apresentado neste material, cabe aqui destacar a importância do facilitador, alguém com uma boa visão científica e na prática clínica, mas cujo maior valor para o aluno consiste em “facilitar” (ou não dificultar) a sua vida, uma vez que abre espaço para seu desenvolvimento e não impede seu amadurecimento científico.
Deve ser entendido que a definição da palavra orientador apresentada neste capítulo difere da definição e interpretação com que a palavra é comumente utilizada no meio acadêmico. A palavra “orientador” é usualmente utilizada no intuito de definir a função daquele professor gabaritado para conduzir a pesquisa que será realizada pelos alunos em qualquer situação, seja nos cursos de graduação ou pós-graduação. A definição utilizada neste capítulo vai além da definição de uma função temporária e condicional para uma definição de acordo com a natureza daquele que exerce a função de orientação.
Diante da situação encontrada nas instituições universitárias brasileiras, particularmente em nosso estado, onde não existem políticas de apoio e incentivo para a atividade de professores em dedicação exclusiva e integral, encontrar um facilitador pode ter o mesmo valor de ganhar um prêmio (Castro, 2002). Um ponto de observação para os alunos neste momento é que o fato de não conseguir encontrar um orientador ou facilitador não deve servir como um fator desestimulante, pelo contrário, pois é enfrentando as dificuldades que são realizadas as grandes conquistas.
Portanto, o caminho que o aluno do curso de graduação deve seguir é o de procurar alguém com uma prática na profissão, ou na área de desejo, tão significativa que lhe permita sugerir alguma dúvida ou pergunta a ser elaborada como pesquisa. Mesmo que a dúvida seja algo considerado simples, ela deve ser encarada como importante para o propósito a que se destina, que não é o de fazer diferença no contexto científico onde se situa, mas de preparar e ensinar o método científico.
Um conselho útil para os alunos que buscam idéias brilhantes com professores é conversar bastante com o professor para entender de fato o que o professor propõem. Comumentemente, o que ocorre é a descrição sucinta, por parte do professor, de várias idéias ao mesmo tempo para um aluno que não se informa adequadamente sobre questões básicas, tais como: a) Por que faríamos essa pesquisa?; b) Como faríamos essa pesquisa?; c) Qual a pesquisa mais adequada para minha situação (eperiência/tempo); d) Quem participaria da pesquisa?; etc. A sugestão então é a de esmiuçar a idéia em diversas características para entender adequadamente e facilitar o desenvolvimento das etapas seguintes principalmente do plano de intenção.
4. O que fazer depois de ter a idéia?
O passo seguinte após a formulação (ou recebimento, por assim dizer) da idéia brilhante é o de colocar tudo no papel, ou seja, redigir o plano de intenção, que consiste em uma folha de papel com a pergunta da pesquisa, dados pessoais e de contato do aluno, resumo do que se pretende pesquisar e palavras-chave da pesquisa. Com o plano de intenção na mão, o aluno pode procurar aquele que orientará o trabalho e poderá dar seguimento ao planejamento até o projeto de pesquisa.
6. Conclusão
A idéia brilhante é o pilar básico ou pedra angular da futura pesquisa em estruturação uma vez que dela depende todo o planejamento da pesquisa. A sua formulação pode depender de pessoas capacitadas que podem ser os professores, orientadores ou facilitadores uma vez que os alunos do curso de graduação não possuem uma visão suficientemente profunda sobre alguma área ou tema específico em sua profissão. Cabe aos alunos buscar o entendimento das características básicas da idéia brilhante proposta ou sugerida por um professor/orientador para facilitar e possibilitar o adequado desenvolvimento das etapas posteriores.
Castro AA, Clark OAC. Planejamento da pesquisa. In: Castro AA. Planejamento da pesquisa. São Paulo: AAC;2001.
Castro AA. Iniciação científica: recursos, conhecimentos e habilidades. In: Castro AA. Manual de iniciação científica. Maceió: AAC;2003. Disponível em: URL: http://www.metodologia.org
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Clark, 2001
Clark OAC, Castro AA. A pesquisa. In: Castro AA, editor. Planejamento da pesquisa. São Paulo: AAC; 2001. Disponível em URL: http://www.evidencias.com/lv4.htm